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Galeria de Fotos: Rádio N'Djerapa Có

Rádio N'Djerapa Có - A Voz do Biombo

A rádio N’Djerapa Có – A Voz de Biombo, foi o nome escolhido para o primeiro órgão de comunicação social da região do Biombo na Guiné-Bissau. Uma rádio há muito desejada, mas feita apenas em sonho pelos jovens daquela região. Um sonho que se tornou realidade com o apoio da Fundação João XXIII.

Em Janeiro de 2009, durante uma viagem de mais um grupo de voluntários e apaixonados pelo projeto, pelos sorrisos de quem recebe, pela alegria de quem dá, pelos cheiros e cores de África, a Fundação João XXIII abraçou mais um projeto na região onde está sediada, Biombo. Passados vários anos de solicitações por parte do grupo de jovens N’Delugan, tinha chegado a hora de dar voz a estes jovens, adultos, crianças.

Num trabalho conjunto, a associação de jovens N’Dlugan certificou a rádio, deu-lhe frequência, enquanto a Fundação João XXIII pedia apoios materiais em Portugal para montar o estúdio, fazia angariações de fundos para conseguir por de pé uma obra que materializasse este sonho.

Passaram 9 meses e reuniu-se o material técnico necessário, os fundos para a obra e os braços e vozes para montar a primeira rádio do Biombo. Duas semanas de trabalho intenso, de tarefas repartidas entre membros da Fundação e jovens do Biombo. Alguns colaboravam nas obras, outros estavam a receber formação para serem futuros animadores da Rádio N’Djerapa Có – A Voz de Biombo, mas outros detalhes de grande relevância também se preparavam. Uma reunião com todos os régulos da região, figuras máximas do poder tradicional na Guiné-Bissau, que fazem a transmissão do poder através do sobrinho e assim sucessivamente. Sem a sua permissão, a rádio não poderia emitir, ou correr-se-ia o risco de ter efeitos nefastos.

Há regras e tradições que passam de geração em geração e estão tão enraizadas que ninguém ousa questionar. Reuniões com os representantes máximos do Poder Tradicional, rituais que garantem a bênção do projeto e o sucesso do mesmo. Entre reuniões, rituais com cabritos, galinhas e muito trabalho finalizou-se a obra, completou-se a formação, fez-se a seleção de jovens profissionais da rádio e preparou-se uma grelha.

O régulo da região, Casma Có, falou em nome dos régulos dos sectores, agraciou a iniciativa dos jovens N’Delugan e o apoio da Fundação João XXIII, sem o qual não seria possível realizar este sonho. Agradeceu todo o trabalho e manifestou o seu entusiasmo e esperança ao dizer que “se iria virar uma página na história do Biombo com a criação desta rádio. O Biombo nunca mais será igual”.

No Biombo fala-se crioulo como em toda a Guiné-Bissau, e papel o dialecto da região e muito pouco português, apesar de ser língua oficial. Mesmo assim e porque a rádio forma e informa, os noticiários seriam emitidos três vezes por dia, em papel, crioulo e português. Acrescentaram-se programas sobre saúde, educação, música nacional e internacional, entrevistas, desporto,programas de debate abertos ao ouvinte e um espaço dedicado às crianças.

Estava tudo a postos. O dia da inauguração estava a chegar. Muitos convidados ansiosos, muitos novos jornalistas expectantes e uma população inteira de olhos postos na sua nova rádio comunitária.

A frequência da rádio estava testada, a primeira música emitida na frequência 103.7 FM, foi recebida com lágrimas de felicidade, sorrisos de uma alegria inexplicável, momentos inesquecíveis, de uma simplicidade reveladora e marcante. A voz trémula de Andoi, o brilho nos olhos de Daniel Nanque denunciavam um sonho quase realizado, um desejo distante a ser alcançado, uma emoção de um povo, protagonizada por dois jovens guineenses que conseguiram, após anos de tentativas, realizar um sonho, o sonho de um povo.

Dia 4 de Novembro de 2009. A Rádio N’Djerapa Có começa a emitir para toda a região do Biombo. Os discursos estiveram a cabo dos responsáveis políticos da região, administrador e um deputado natural do Biombo. Antes de se cortar a fita reuniram-se os representantes do povo e de todas as religiões e credos em prole de um bem comum. Seguiu-se uma emissão ao vivo, directos e entrega de diplomas. Milhares de pessoas reuniram-se em torno da casinha de bloco e telhado de zinco, celebrando o dia em que a comunicação não só chega, como sai do Biombo.

O aglomerado de jovens que se reúne na tabanca de Ondame, inverte as projeções de exôdo rural dos jovens. O rádio passou a ser um objecto indispensável de todos os guineenses desta região, seja em casa ou no campo, em cima da mesa ou pendurado na árvores, a rádio passou a ter um papel determinante na formação e informação deste povo, que escuta, segue e dá a sua opinião assim que lhe é dado espaço na antena. 

O fornecimento ininterrupto de energia eléctrica a esta rádio, à Clínica Bom Samaritano, à Biblioteca e às instalações do Centro Social é uma contrapartida da cedência do terreno da Fundação João XXIII a uma emprese africana de telemóveis, para a instalação da sua antena.