Clínica Bom Samaritano
A Clínica Bom Samaritano (CBS) é um dos trabalhos sociais mais antigos na zona de Ondame. Começado em 1957 por duas Irmãs inglesas que dedicaram a este Centro toda a sua vida, estas duas grandes mulheres deixaram este projeto para se reformarem em 1992, entregando assim a sua gestão à Igreja evangélica de Bissau. No entanto, nunca deixaram de continuar a trabalhar para ajudar à sobrevivência da mesma, enviando medicamentos, roupas de bebé e algum dinheiro, todos os anos, sendo uma lufada de ar fresco nas economias da gestão da CBS.
Apesar de toda a boa vontade dos profissionais que geriam a Clínica no terreno, era de todo impossível mantê-la com a mesma qualidade técnica e humana, existente no tempo das missionárias inglesas. E por isso, estas rezavam todos os dias para que mais um milagre acontecesse… Com a fé que sempre as fez acreditar, viviam o seu dia-a-dia, agora em terras de Sua Majestade, mas sempre com o povo de Ondame no coração.
E em Janeiro de 2005 as suas preces foram ouvidas, com a chegada dum grupo voluntários da Fundação João XXIII, em férias solidárias. Uma das missões deste grupo era também levar material para a CBS, que conheciam através dos relatos de alguns dos fundadores. No decorrer da visita de cortesia aos responsáveis da clínica, para lhes entregar o material que levavam, o grupo deparou-se com uma situação de emergência, que a todos sensibilizou: Loida, a enfermeira responsável, estava atarefadíssima, a meio de um parto muito difícil e com necessidade de uma evacuação para a maternidade de Bissau. Era urgente fazer uma cesariana. Questionada pelo grupo, porque não iam de imediato, a resposta foi: “nós não temos dinheiro para o gasóleo e a família também não!" E todo o grupo de voluntários, entreolhando-se, afirmou, como que de um pensamento colectivo se tratasse, “então nós levamos e nós pagamos!” A parturiente chegou a Bissau, ao hospital público, e apesar de se ter conseguido salvar a mãe, não se conseguiu salvar aquela criança...
E assim começa a grande aventura que levou a Fundação João XXIII a ser hoje responsável pela direção do Centro Materno Infantil missão evangélica, hoje chamado de Clínica Bom Samaritano.
Tendo tido, de imediato, todo o apoio por parte dos responsáveis da Fundação João XXIII, foi logo canalizada uma verba dos donativos para a dignificação da clínica e a criação das condições mínimas de salubridade e logística para poder funcionar (substituição dos colchões, pinturas das paredes, aplicação de linóleo no chão e limpeza geral e profunda da Clínica…) Começaram então os quinze dias de trabalho, de muita vontade de mudar, de muitas conversas, partilhas e reflexões, que modificariam para sempre a vida de duas grandes mulheres, hoje responsáveis por este projecto – Olinda Pedroso e Filomena Almeida. Voltaram para casa com uma grande vontade de fazer muito mais, e duas semanas depois estavam de volta a Ondame, carregadas com uma infinidade de material que entretanto conseguiram angariar junto de familiares e amigos. Reuniu-se mais informação sobre o funcionamento da CBS e sobre as suas fundadoras, concluindo-se que estava um pouco em auto gestão, recebendo apenas alguns medicamentos e dinheiro de Inglaterra, e com os salários em atraso há muitos meses…
Antes de regressarem a Portugal ficou a promessa de tudo fazer para ajudar, e depois de se fazerem “contas à vida”, chegou-se à conclusão que a despesa mensal da CBS rondaria os 2000 €. Surgiu de imediato a ideia de encontrar 200 pessoas que doassem 10€ por mês, e a esta seguiram-se outras ideias, que contagiaram muita gente! Trabalharam muito, convenceram muitos amigos e familiares, organizaram jantares de solidariedade, palestras, encontros e serões e abriram uma conta para os donativos mensais, trimensais ou anuais. Foram abençoadas com alguns milagres, como a dádiva de alguns milhares de meias, amostras de um representante de meias, que depois de todas emparelhadas foram vendidas, revertendo esta venda para a CBS. E assim começaram os primeiros chás que se transformaram em bazares, que hoje decorrem pelo menos duas vezes ao ano, no Verão e no Natal.
Em 2006, realizou-se um sonho: as responsáveis pela CBS deslocaram-se a Liverpool e conheceram pessoalmente as duas missionárias inglesas – Miss Lilly e Miss Brenda – e toda a comunidade evangélica inglesa que há muitos anos apoia este projecto, sem nunca ter estado na Guiné, apenas movidos pela vontade de ajudar. Miss Lilly doou todo o dinheiro das suas poupanças para comprar uma nova ambulância, dando assim uma grande prova de confiança, mesmo que algumas pessoas a advertissem que podia ser perigoso confiar em duas desconhecidas… E em 2008, Miss Lilly regressa a Ondame, para grande felicidade de todos nós e dos locais!
Depois vem o bem-aventurado ano de 2010, em que levámos pela segunda vez uma médica - a Dra. Teresa de Carvalho, que se apaixonou tanto pelos projectos e pelo trabalho hercúleo que fazemos no local - e os milagres que acontecem a cada instante... Que no ano seguinte conseguiu levar consigo um grupo enorme de médicos e enfermeiros, no Projecto Visão
Utilizando a sabedoria e experiência dos membros mais desta Fundação, queremos continuar com o lema “Melhor levar a cana e ensinar a pescar que dar o peixe”. Nessa perspectiva continuamos todos os anos a trabalhar para que a autonomia financeira e técnica da CBS vá crescendo, providenciando formação aos nossos técnicos no terreno, em técnicas médicas e de enfermagem, e na gestão dos recursos materiais e financeiros que nos são entregues.
Relativamente à gestão financeira da CBS, podemos resumir os últimos 7 anos da seguinte forma:
No primeiro ano, foram financiados a 100% os salários e os medicamentos, a manutenção do gerador e da ambulância.
No segundo ano, conseguiu-se uma autonomia para os custos de 1 mês, no terceiro ano, para os custos de 2 meses, no quarto ano, para os custos de 3 meses, no quinto ano para 4 meses e no ano passado, a autonomia atingiu os 5 meses; esta autonomia é adquirida através de uma taxa moderadora por consulta e venda de medicamentos tabelada pelo Estado Guineense.
A Fundação João XXIII aplica na gestão da Clínica Bom Samaritano, as regras determinadas pelo Ministério da Saúde Guineense para todos os centros de saúde públicos, trabalhando assim em parceria e sintonia com as entidades oficiais e com pessoal local.