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Galeria de Fotos: Missão Visão 2011

Projecto Visão

Nas suas variadas incursões à Guiné, os elementos da Fundação João XXIII foram-se apercebendo das inúmeras lacunas e deficiências existentes no âmbito dos cuidados de saúde. Em diversas áreas, a assistência é mesmo inexistente, levando a situações de grande carência e abandono. Foi numa destas viagens de apoio humanitário que se tornou patente e existência de inúmeras situações de cegueira, muitas delas atingindo mesmo pessoas relativamente jovens. Este quadro triste sensibilizou os elementos em missão e fê-los pensar em promover um projecto na área da oftalmologia. Nasceu, assim, o Projecto Visão Guiné. A ideia inicial seria de ir com uma equipa médica até Ondame e operar cerca de 50 pessoas cegas, de forma a devolver-lhes a visão. E foi assim que, nos primeiros meses de 2010, começaram os preparativos de toda a logística necessária à persecução da missão projetada para 2011. Não seria uma missão simples de organizar, mas com a boa vontade de todos não seria impossível. Reuniões, contactos, planos e o projecto foi crescendo.

Em Agosto de 2010, um grupo de 9 escuteiros, quase todos do Agrupamento 218 – Brufe e do 124 – Lousado, Núcleo de Famalicão, uniram-se a este esforço e realizaram uma importantíssima parte desta missão, levando a cabo obras fundamentais para o Bloco Operatório que era necessário instalar. A par desta estratégica actividade que alicerçou o projecto, fizeram ainda um trabalho de campo relevante no rastreio e inscrição de alguns dos mais necessitados em termos oftalmológicos. Este projecto, embora particularmente destinado aos problemas de visão, foi multidisciplinar. E só assim poderia ser, pois as enormes carências na saúde depressa colocariam por terra a ação em oftalmologia no meio das inúmeras solicitações que previsivelmente iriam ocorrer…E nesse sentido, a equipa de oftalmologistas participantes na missão passou a contar também com um conjunto de outros médicos, enfermeiros e ajudantes com as mais variadas aptidões.

Assim, no início de 2011 e por um período de cerca de um mês, um grupo de 32 voluntários, desenrolaram a respetiva actividade humanitária denominada Missão Visão 2011.

Uma missão com esta envergadura é algo de dispendioso, não nos referindo aos custos com a viagem e os vistos (cujos custos são suportados por cada interveniente) mas sim ao transporte dos equipamentos, aos materiais médicos a consumir nas cirurgias, aos medicamentos, etc.. Para que se obtivessem alguns apoios, realizaram-se diversas actividades, nomeadamente a realização de um sorteio, um concerto solidário, um espectáculo artístico, um jantar solidário, uma sardinhada, um bazar, etc.. Alguns particulares e algumas empresas deram também a sua colaboração, destacando-se o apoio da Bausch&Lomb e da Edol. Reunindo todas as participações, criaram-se as condições para levar por diante o projecto.

As cirurgias oftalmológicas privilegiaram, especialmente, pacientes com cataratas bilaterais em fases muito evoluídas e, por consequência, que se encontravam num estado de cegueira.

No final, podemos afirmar que a missão decorreu pelo melhor, sem qualquer atribulação e de forma a que todos regressassem com saúde a sua casa. Um outro facto não poderá deixar de se assinalar, dado ser tão significativo quanto os outros. Trata-se do espírito de equipa e de entreajuda que existiu, não só entre os elementos que compunham a missão, como com aqueles que todo o ano trabalham na clínica Bom Samaritano, em Ondame. Seguramente que não foi fácil para estes alterarem, de forma abrupta, o seu sereno quotidiano, e ver entrar um autêntico "batalhão" de pessoas que, além do mais, atraiu inusitadamente uma "multidão" de guineenses sedentos de cuidados de saúde. Com esforço e sacrifício, mas entusiasmados, estiveram sempre presentes, sempre calmos e sempre amigos. Apesar de se terem alcançado os objetivos em pleno, ficamos com uma inquietude de consciência de algo que não deveria acabar aqui. Esta missão permitiu adquirir uma importante experiência e deixar na Guiné contactos que podem facilitar novas ações neste país. É o caso da cooperação estabelecida com o hospital de Cumura em Bissau. Com o apoio da Fundação João XXIII, projetou-se continuar a actividade na área da oftalmologia neste hospital. Não por desprendimento a Ondame, mas por não ser viável manter, naquele local, os equipamentos para um bloco de oftalmologia. Precisamos de mais apoios para continuar a operar pessoas cegas e para ensinar técnicos locais que, futuramente, se tornem mais autónomos. Todos os que se reverem neste projeto e o quiserem integrar ou apoiar, poderão contactar a Fundação na vertente do Projecto Visão Guiné.

Ficámos muito contentes pois a expectativa de tratar 50 pessoas foi largamente ultrapassada e acabaram por ser operadas 142 pessoas. Além desta actividade cirúrgica, as outras actividades ultrapassaram também todas as previsões, sendo apresentado no quadro que se segue um resumo de toda a actividade:

A continuidade do Projeto Visão Guiné, por Luís Goncalves, Médico Oftalmologista

Como já referido, no ano 2011 realizou-se a primeira missão dedicada à visão que teve um carácter essencialmente humanitário. Dada a experiência adquirida, os contactos estabelecidos e as prementes necessidades da população, pretendeu-se dar continuidade à ação humanitária desenvolvida no ano 2011. A equipa de oftalmologistas envolvidos em colaboração com a Fundação João XXIII e o Hospital de Cumura, lançaram as bases para uma ação mais sustentada dando um pendor formativo mais vincado no projeto a desenvolver. A meta principal será dotar o hospital de Cumura com os meios técnicos necessários para que se torne um centro de formação e assistência oftalmológica de referência na Guiné-Bissau e onde, periodicamente, se possam deslocar equipas de voluntários com a missão de:

  • Realizar cirurgias oftalmológicas nesta população tão carenciada.
  • Evitar tanto quanto possível a vinda dos pacientes a Portugal com todos os gastos inerentes para o estado Guineense e Português.
  • Fazer formação de técnicos locais promovendo a sua autossuficiência.

 

E em 2012…

Foram reforçados os laços de laços de amizade com as pessoas do Hospital de Cumura como base fundamental para lançar o futuro e neste hospital instalámos equipamentos de oftalmologia no bloco operatório e equipamos um gabinete para a realização de consultas de oftalmologia. Proporcionámos os contactos que permitiram que o Dr. Seco (um dos poucos oftalmologistas existentes na Guiné) manter aberta uma consulta de oftalmologia no Hospital de Cumura, às 4ªs feiras. Durante o período da missão realizaram-se cerca de 500 consultas e 60 cirurgias de catarata.

Foram organizadas duas palestras para profissionais de saúde que incluíram e projeção de vídeos, e a abordagem de temas como a anatomia e fisiologia do olho, as novas técnicas de cirurgia da catarata por microincisão, a oftalmologia pediátrica e a prevenção do tracoma.

 

Campanha contra o tracoma

Por fim de referir que a campanha contra o tracoma concretizou-se em pleno com a distribuição de folhetos e posters. Estes serviram para divulgar em escolas, centros de saúde etc., alguns dos princípios básicos da prevenção desta doença.

A nova fase do projecto

Criadas que estão as condições logísticas no terreno para a realização de cirurgias oculares (especialmente a cirurgia da catarata), e motivados os elementos locais a iniciar com estas novas técnicas, iremos realizar em Portugal um curso intensivo de microcirurgia ocular, de modos a proporcionar a alguns técnicos da Guiné-Bissau, a possibilidade de praticarem durante 2 ou 3 dias, os métodos mais modernos da cirurgia da catarata. A familiarização com os modernos equipamentos de cirurgia da catarata por elementos que já têm experiência cirúrgica adquirida com a utilização do microscópio, permitirá uma progressão mais rápida e consequente.

É neste caminho de autossustentabilidade das comunidades locais que pode e deve caminhar a nossa vontade de ser solidário. Acreditamos que estamos no caminho certo e que estamos a direcionar o sentido humanitário de todos os envolvidos, para um plano com boas perspetivas de continuidade e de futuro.